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O projecto de curso de aprofundamento em matemática (ano zero)

"...Que infeliz seria eu agora, se na minha juventude não tivesse adquirido vastos conhecimentos e o gosto para os apreciar"

(Lord Chesterfield "Cartas ao filho").


I. Fundamentação e Oportunidade

Como mostra a experiência, tanto nacional como internacional, a preparação matemática dos alunos ao nível do ensino secundário pode considerar-se suficiente face aos objectivos de proporcionar familiaridade com os aspectos básicos da Matemática escolar e de fornecer requisitos matemáticos a um vasto leque de alunos. Contudo, os conhecimentos e as capacidades que os alunos adquirem revelam-se insuficientes para permitirem uma transição suave que possibilite o sucesso nos seus estudos superiores.

Como consequência, um largo número de alunos de todos os cursos superiores que incluem disciplinas de Matemática, têm, de facto, grandes dificuldades em dominar e atingir níveis de desempenho satisfatórios nessas disciplinas, desde o início dos seus estudos superiores. O resultado mais visível deste desajustamento é a elevada taxa de fracasso nos exames das disciplinas de Matemática no ensino superior. Muitas vezes, isto traduz-se na acumulação de disciplinas em atraso que impedem os alunos de terminar a sua graduação no tempo previsto e, naturalmente, de iniciarem a sua actividade profissional no âmbito da sua vocação.

Não é por acaso que esta situação se manifesta no momento da passagem para a formação universitária. A própria estrutura da Matemática terá alguma relevância na génese do problema. Mas, além desta, é de sublinhar uma forte disparidade entre a preparação dos alunos no ensino secundário e as premissas sobre as quais assenta o trabalho em Matemática de um ponto de vista superior. Assim, a Matemática escolar é normalmente apresentada a um nível elementar, recorrendo ao pensamento concreto, em que os conceitos e noções nem sempre são acompanhados de um raciocínio formal, nomeadamente com recurso a demonstrações de proposições, e em que o contacto com noções matemáticas avançadas é escasso e muitas vezes reduzido a um conjunto de "receitas".

A transição da Matemática elementar para a Matemática avançada é uma mudança fundamental no modo de tratar os assuntos. É, com efeito, um salto para o pensamento abstracto, em que se requer a compreensão de uma grande quantidade de ideias abstractas e a capacidade de demonstrar a um nível mais exigente de formalidade. Se um aluno apresenta falhas na compreensão de demonstrações de resultados matemáticos elementares, o processo de aprendizagem de novos assuntos, fica, frequentemente, comprometido.

Parece ser cada vez mais óbvia a necessidade de criar estruturas suplementares na organização do processo educativo que possam promover a possibilidade de os alunos adquirirem a preparação necessária para apreenderem as matérias leccionadas nas disciplinas de Matemática ao nível superior.

Como se sabe, a prática de recurso a tutores privados (vulgarmente denominados de explicadores) não consegue, por várias razões, resolver o problema. Uma delas, pode residir no tipo de tutoria que se realiza, por exemplo, com aulas individualizadas, em que há pouco espaço para diálogo, questões e aprendizagens conjuntas. Outras poderão centrar-se nos objectivos que tais lições perseguem, como seja, o de ajudar os alunos a ter sucesso nos testes e exames do secundário, limitando assim o nível das actividades de aprendizagem ao estritamente exigido. Por último, trata-se, muitas vezes de uma repetição dos assuntos tratados na escola, tendo em vista uma melhoria da compreensão dos mesmos ou um maior domínio das técnicas aí ensinadas. Não raro, este é um processo de ensino muito baseado na repetição e na aquisição de procedimentos rotineiros, que não incluem o desenvolvimento de capacidades de nível mais elevado.

Uma estrutura que poderia revelar-se útil na resolução do problema colocado, teria por base a ideia de uma integração gradual entre a matemática elementar ensinada ao nível do secundário e os processos e conceitos matemáticos requeridos nas disciplinas de Matemática do ensino superior e seria dirigida aos alunos do secundário que pretendessem continuar os seus estudos.

A concretização desta ideia tem de passar pela criação de um programa especificamente elaborado com estes propósitos e pode ser posta em prática por professores universitários que tenham experiência e qualidades pedagógicas e que conheçam as principais estruturas de suporte necessárias ao processo de aprendizagem de disciplinas matemáticas.

Considera-se, assim, viável e recomendável a organização de um curso especial de aulas semanais de Matemática com base num programa especificamente destinado a alunos do ensino secundário que desejem prosseguir os seus estudos na universidade, bem como àqueles que, tendo já concluído o ensino secundário, pretendam aprofundar os seus conhecimentos de Matemática e desenvolver capacidades que lhes facilitem o estudo de disciplinas de Matemática do ensino superior.


II. O "Ano Zero" - Objectivos

O "Ano Zero" será um curso anual de aulas semanais de Matemática realizado na Universidade com base num programa especificamente elaborado para os potenciais candidatos a uma licenciatura.

O principal objectivo deste curso será a preparação dos futuros alunos para o prosseguimento normal da sua formação matemática ao nível superior. Pretende-se, portanto, proporcionar aos alunos as aprendizagens e o desenvolvimento de aptidões que lhes permitam evoluir para formas de pensamento matemático avançado.

O "ano Zero" funcionará numa base comercial, subordinada ao pagamento de propinas, de acordo com a legislação em vigor, prevendo-se propinas diferenciadas para estudantes regulares e estudantes trabalhadores.

As aulas do "Ano Zero" decorrerão anualmente entre 1 de Abril e 1 de Maio (do ano seguinte), sendo este período escolhido com o propósito de que os finalistas do 12º ano possam concluir o curso antes do início dos exames nacionais.

A divulgação e as inscrições no "Ano Zero" terão lugar entre 5 de Janeiro e 25 de Fevereiro de cada ano.

Em Março, serão formados os grupos de alunos e serão definidos os calendários, horários e outros aspectos logísticos, de acordo com o número de alunos inscritos.


III. Formato geral do programa do curso.

Será apresentado um programa do curso, num total de 100 horas, para alunos do ensino secundário ou para outros interessados que, tendo concluído os seus estudos no secundário, desejem sedimentar os seus conhecimentos de Matemática. O programa incluirá as componentes principais da Matemática escolar (Álgebra, Funções, Geometria) com o tratamento, os métodos e os resultados adequados ao tipo de processos mentais necessários para a compreensão de disciplinas do ensino superior.

No contexto universitário, serão produzidos materiais de apoio para os estudantes do "Ano Zero" relativos a todo o programa, em que se apresentarão os tópicos essenciais, a solução de problemas e sugestões para a sua resolução, bem como exemplos e ilustrações que permitam o estudo autónomo.

Semanalmente, professores universitários realizarão aulas com a duração de 2 a 3 horas, de acordo com o calendário estipulado. Nestas aulas, o professor introduzirá os assuntos com detalhe, proporá diversos exemplos e apresentará problemas. Além disso, sugerirá tarefas, como trabalho de casa, visando estimular o trabalho autónomo dos alunos.

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